domingo, 28 de junho de 2015

Coitada

Coito ardor, abismo, onde se cruzam os órgãos. Se desenrola,
rola, onde o fogo nunca derrama o leite.
És tu a alucinação na minha memória. O nosso epicentro.
Quilha no sentir. Que viva e quente, nos penetra o ser. Nos
come no vir. Potência infernal, na orla do nosso prazer. A cada...

pancada nossa uma vertigem se retira do teu astro cheio.
Almíscar. A argila táctil. E fica assim ateando a minha escrita
só pelo silêncio nu cercada. Põe a mão na noite e fica, não
porque o desejamos, mas porque Deus deu às partes sexuais
delírios e furos naturais. Húmidos. Orvalhados. Janelas de
força onde circula o odor de leite. Janelas opulentas, onde o
pau arde na flora, e onde a flora irrompe a haste desordenada.
Num poema...
Poesia é isto, um coito entre palavras, que se devoram entre
vozes, fôlegos e orifícios, superlativos uns aos outros e uns nos
outros...



Luísa Demétrio Raposo
in Respiração das Coisas/2010

Sem comentários: